Nascemos mesmo ao lado de uma das mais belas cidades do mundo. Como ela, herdámos o culto do que nos rodeia, do que os antepassados souberam construir, das tradições que cuidaram em criar e preservar e da natureza que sempre foi generosa para nós.
A nossa história começou antes de nós e, reconhecemos, há-de perdurar para além de nós. Primeiro e sem sobressalto, num convento antigo votado ao espiritual, depois e usando da maior força dos braços, no desbravar da paisagem que fez nascer quintas e quintinhas e, com elas, a oportunidade que uma terra farta dá à construção de uma comunidade.
Alma e estômago fazem grandes povos.
A água rega a terra, a terra é generosa com quem a cuida e a riqueza que ela gera dá sustento e tempo. Com melhor sustento e mais tempo homens e mulheres, com a inteligência e a criatividade, apuraram técnicas, sementes e espécies e, como os alquimistas, desvenderam muitos segredos que hoje enchem as nossas mesas com uma das maiores riquezas do Alentejo: a gastronomia.
Mas depois e com as promessas vãs do falso progresso a terra foi vendo muitos partirem, outros a dela desistirem e o silêncio e o pasto tomaram conta de quase toda a parte. Como se tudo adormecesse.
A uma geração sucede outra e a essa outra sucederá. E nelas é comum que a sabedoria não se perca. Chamamos-lhe a memória coletiva.
Pois o antigo ganhou novo valor e a riqueza voltou a encontrar-se na terra. Como se se redescobrisse um tesouro. O sangue novo veio trazer nova energia e mais mundo. E uma nova alegria àqueles que, não desistindo, fizeram de guardiões ao que mais importava.
A terra voltou a desbravar-se, os campos ganharam um novo viço e a comunidade construiu-se ainda mais pujante e com maiores laços de afeto entre si. As mesas voltaram a animar-se, as ruas alongaram-se e, pura magia, os risos das crianças voltou a inundar o pátio da escola e os caminhos de volta a casa.
Os Canaviais são hoje uma das mais jovens freguesias do Alentejo e está a crescer. O movimento na rua, o sorriso que os outros nos retribuem, a abundância das nossas hortas, as mais demoradas conversas na rua, a correria alegre das nossas crianças no recreio da escola, os almoços demorados dos fins-de-semana em família, a atividade ao ar livre, a vitalidade das nossas empresas, das associações culturais, sociais e desportivas e as demonstrações públicas da nossa cultura fazem-nos lembrar e valorizar o privilégio que temos em viver numa terra de paz.
Dá gosto viver aqui.